Os trabalhos em turnos são formas de organização da jornada diária de trabalho em que são realizadas atividades em diferentes horários ou em horário constante, porém incomum. É resultante das mesmas atividades realizadas em diferentes períodos do dia e da noite.
O trabalho em turnos e noturno não é um fenômeno novo, ao contrário, existe desde o início remoto da vida social dos homens em formação organizada, como cidades e estados. Percebeu-se a presença desta forma de trabalho, desde a antiguidade, onde, era necessária a presença de pessoas que pudessem fazer a vigília do local, sem que animais perigosos ou possíveis ataques de tribos inimigas pudessem chegar ao local.
Mais tarde, conforme a civilização progredia, o comércio adquiriu importância e o trabalho em turnos e noturno expandiu-se com o aumento do transporte de passageiros e de matérias primas. As necessidades de comunicação tornaram-se mais importantes, resultando em entregas noturnas de correio, navegação e transporte terrestre. As profissões de segurança e manutenção da lei, padarias e hospitais, exigiam cobertura em tempo integral para sociedades em crescimento.
Em 1879 Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica, possibilitando um pouco mais tarde, em 1882, uma fonte confiável de força/energia, sendo este o maior evento isolado e relevante na história para o crescimento do trabalho em turnos e noturno, já que permitiria a utilização de equipamentos em tempo integral e a oferta de bens e serviços, sem interrupção, por 24 horas, White & Keith (1990) e Gordon, Cleary, Parker & Czeisler (1990).
A Revolução Industrial, seguida pela urbanização, foi o próximo fato histórico que possibilitaria o trabalho em turnos e noturno. O gás e as lâmpadas elétricas tornaram esta forma de organização temporal do trabalho mais acessível, e grandes fábricas tiraram vantagem da economia do processamento contínuo para tornar a produção mais lucrativa.
Durante a Primeira Grande Guerra, um grande número de homens e mulheres abandonou as atividades agrícolas para irem trabalhar em turnos nas fábricas de munição, em rodízios 24 horas por dia. A partir da Segunda Grande Guerra o trabalho em turnos e noturno cresce quase 1% por ano, de modo que atualmente mais de 1/4 de todos os homens trabalhadores e 1/6 das mulheres nos EUA fazem rodízio de turnos 24 horas por dia, Moore-Ede (1983).
Por outro lado, em nações industriais ao longo dos últimos 20 anos, tem havido um aumento significativo na prática de se usar dois ou mais turnos de trabalhadores em processos produtivos que excedem a duração de um dia regular de trabalho.
Assim, o trabalho em turnos e noturno tornou-se comum na indústria alimentícia, cerâmica e metalúrgica e em serviços de saúde, segurança e transportes. Na França, a proporção de negócios que operam com turnos múltiplos elevou-se de 10% para 22% entre 1958 e 1974. Nos EUA a proporção de operações manufatureiras em turnos múltiplos vem aumentando cerca de 3% a cada 5 anos, com algumas indústrias principais tendo mais do que a metade dos seus trabalhadores em turnos.
A partir da década de 90, 26% da força de trabalho nos EUA está trabalhando pelo menos 4 horas fora do horário das 09:00 às 17:00 horas. Assim, o trabalho em turnos e noturno tornou-se um estilo de vida para, aproximadamente, 25% da força de trabalho nos EUA, Winget, Hughes, & LaDou (1994).
Em resumo, na idade média, o trabalho em turnos e noturno cresceu radicalmente, mas a maior comprovação e permissão para um melhor trabalho em turnos foi a partir do séc. XIX, quando a lâmpada elétrica de Thomas Edison foi inventada, gerando assim, uma fonte segura do crescimento do trabalho juntamente com a presença da energia elétrica. A revolução industrial permitiu a entrada de mais pessoas nas grandes fábricas, aumentando assim, o número de funcionários e diminuição da carga horária do turno. Nas grandes guerras mundiais, pôde-se verificar a quantidade de pessoas que deixaram a agricultura para trabalhar nas indústrias bélicas, aumentando assim, o número de trabalhadores que trabalhavam em turnos.
2) POR QUE EXISTE O TRABALHO EM TURNOS ?
A existência do trabalho em turnos se dá, atualmente, para uma melhor forma de organização do trabalho, de acordo com determinados fatores:
1. De ordem técnica, ou seja, processos industriais que utilizam operações contínuas; De ordem econômica, onde o custo do maquinário exige seu uso ininterrupto para tornar a produção economicamente viável;
2. De ordem social, pela exigência do aumento da capacidade industrial, com a utilização do sistema em turnos, para possibilitar o aumento de trabalhadores empregados;
Estes aspectos são direcionados à demanda, pelo aumento da procura por determinado produto e por exigência de alguns segmentos do setor de serviços, como por exemplo, ferrovias, correios, aeroportos, polícia, hospitais, segurança, marinha mercante, etc.
O sistema de trabalho em turnos e noturno apresenta uma grande diversidade de tipos e modelos. Assim, são encontrados, de maneira geral, sistemas de trabalho em turnos e noturno nas seguintes condições, de acordo com Scott & LaDou (1994):
- Fixo ou permanente - são os turnos em que o trabalhador tem um determinado horário por muitos anos ou por toda a vida de trabalho, ou seja, este trabalhador trabalha todos os dias no mesmo horário, por exemplo só durante o dia, ou à tarde, ou anoitecer, ou turno da noite;
- Rotativo - é quando os funcionários fazem rodízios de turnos, pelo fato que todos devem ter o mesmo salário (esta é uma das causas para ser em forma de rodízio), portanto, todos devem cumprir tanto horários matutinos quanto vespertinos ou noturnos, assim, o salário não é modificado no valor final. Esta forma de turnos pode ter uma rotação lenta ou semanal
- Lenta => geralmente em torno de 21 dias trabalhando no mesmo turno, e
- Semanal => a cada cinco ou sete dias o trabalhador troca de turno, indo para a manhã, a tarde ou à noite.
- Oscilante - o trabalhador alterna entre turnos da noite e do dia ou então entre tarde e noite em base semanal;
Os turnos podem ser programados de acordo com 2 tipos de tempo ou horas de trabalhos, mas este sistema, para ser utilizado, varia de empresa para empresa, dependendo da organização empresarial e econômica/ financeira:
Tempo flexível: dá ao trabalhador considerável escolha para programar suas horas de trabalho diário no atendimento de suas obrigações semanais.
Horas escalonadas: os trabalhadores são designados a trabalhar dentro dos turnos já existentes.
Segundo Ferreira (1987) toda vez que a atividade laboral exigir trabalho em turnos e noturno, não importando que seja feito em turnos alternantes ou fixos, os trabalhadores estarão sempre sujeitos a uma dessincronização e submetidos a um maior risco de apresentarem uma série de distúrbios de ordem fisiológica e psicossocial.
As definições e condições anteriores nos permitem uma variedade de tipos e modelos de trabalho em turnos e noturno, porém, independente do arranjo, alguns fatores devem ser observados para tentar minimizar os prejuízos advindos dessa forma de organização temporal do trabalho. Para Ferreira (1987) esses fatores podem ser divididos em três grupos:
- Os relacionados com o esquema temporal, ou seja, duração e horários:
· número e duração dos turnos;
· horas de início e fim dos turnos;
· intervalo entre os turnos;
· número de duração de pausas;
· período de repouso entre dois turnos, repouso em fins de semana e férias;
· intervalo, duração e local das refeições; e
· tempo e condições de transporte do domicílio para a empresa.
- Os relacionados com os modos de alocação das equipes:
- equipes fixas ou alternantes;
- rotações rápidas ou lentas, regulares ou irregulares;
- número de equipes;
- efetivo por equipe;
- repartição das equipes nos diferentes turnos;
- substituições;
- política de reclassificações de turnistas, de caráter preventivo e limitando a permanência do trabalhador no sistema de trabalho em turnos e noturno; e
- possibilidade de participação na vida da empresa.
- Os relacionados com o trabalho e suas condições de execução:
- tipos de tarefas executadas;
· procedimentos operatórios e sua variabilidade;
· carga de trabalho física e psíquica;
- condições materiais de realização: ambiente físico e químico e espaço de trabalho; e
- condições organizacionais de execução.
O Setor de Ergonomia da Fundacentro (1989) sugere uma tabela para escala de turnos, embora reconhecendo não ser considerada ideal:
| 2ª | 3ª | 4ª | 5ª | 6ª | Sábado | Domingo |
1 | //// | Md | Md | Md | Md | //// | //// |
2 | M | M | M | M | //// | T | T |
3 | T | T | T | //// | N | N | N |
4 | N | N | //// | Md | Md | Md | Md |
5 | Md | //// | M | M | M | M | M |
6 | //// | T | T | T | T | //// | //// |
7 | N | N | N | N | //// | Md | Md |
8 | Md | Md | Md | //// | M | M | M |
9 | M | M | //// | T | T | T | T |
10 | T | //// | N | N | N | N | N |
M - manhã T – tarde N – noite Md - madrugada //// - folga
Observa-se que mesmo na escala sugerida, em algumas semanas o trabalhador pode permanecer até 5 dias em um único turno, inclusive nos turnos da noite e da madrugada e raramente usufruir de duas folgas seguidas após os turnos noturnos.
Como não existe solução única e ideal para o sistema de turnos, pois este modelo de organização temporal do trabalho é por natureza inadequado em virtude de ir contra a orientação diurna do ser humano, sempre que se privilegia alguma variável outra será prejudicada e ao se fazer uma opção relacionada com um determinado fator não esquecer suas implicações e conseqüências em outros fatores relevantes.
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